Então, que seja doce!

quarta-feira, 3 de agosto de 2011


" O homem, quando jovem, é só, apesar de suas múltiplas experiências.
Ele pretende, nessa época, conformar a realidade com suas mãos,
servindo-se dela, pois acredita que, ganhando o mundo, conseguirá
ganhar-se a si próprio. Acontece, entretanto, que nascemos para o
encontro com o outro, e não o seu domínio. Encontrá-lo é perdê-lo, é
contemplá-lo na sua libérrima existência, é respeitá-lo e amá-lo na sua
total e gratuita inutilidade. O começo da sabedoria consiste em
perceber que temos e teremos as mãos vazias, na medida em que tenhamos
ganho ou pretendamos ganhar o mundo. Neste momento, a solidão nos
atravessa como um dardo. É meio-dia em nossa vida, e a face do outro
nos contempla como um enigma. Feliz daquele que, ao meio-dia, se
percebe em plena treva pobre e nu. Este é o preço do encontro, do
possível encontro com o outro. A construção de tal possibilidade passa
a ser, desde então, o trabalho do homem que merece o seu nome. "



Texto encontrado pelo meu querido Helder Palmeira, ao ler "O Encontro Marcado" de Fernando Sabino. Esta seria uma carta que Hélio Pellegrino havia escrito na sua juventude ao amigo escritor Fernando Sabino.


Muitos anos depois, quando completava 60 anos, Hélio reformulou o que havia escrito para Sabino, com muito humor:

"Quando você faz 20 anos está de manhã olhando o sol do meio dia.

Aos 60 são seis e meia da tarde e você olha a boca da noite. Mas a noite também tem seus direitos. Esses 60 anos valeram a pena. Investi na amizade, no capital erótico, e não me arrependo. A salvação está em você se dar, se aplicar aos outros. A única coisa não perdoável é não fazer. É preciso vencer esse encaramujamento narcísico, essa tendência à uteração, ao suicídio. Ser curioso. Você só se conhece conhecendo o mundo. Somos um fio nesse imenso tapete cósmico. Mas haja saco!"


O segundo texto foi extraído do livro "Hélio Pellegrino - A paixão indignada"

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